segunda-feira, 15 de maio de 2017

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        Quando subi no ônibus mal pude crer no que vi. De novo um palhaço (literalmente). De novo um palhaço no ônibus entregando panfletos com fotos bregas de gatinhos contendo frases nada a ver. Depois de entregar os cartões, ele começou a fazer seu discurso que daria para ir pra casa a pé e ainda chegar antes de ele terminar o discurso. Mas como já havia subido no ônibus, teria que esperar até que ele terminasse. Durante seu longo discurso, era possível ver em seus olhos o cansaço de um dia inteiro entregando aqueles cartões que até ele achava que eram bregas. Em sua fala era possível ouvir o tom de obrigação de falar aquelas palavras como se quem o mandara lá o estivesse ouvindo, e ainda tinham as pausas suspiradas no discurso indicando o tédio de ter que repetir aquilo dezenas de vezes por dia e ainda ganhar quase nada de salário.
        A esse ponto já havia me sentado no banco alto em cima da roda do ônibus. Mesmo eu estando cansada, conseguia ver o vazio nos olhos do verdadeiro palhaço infeliz. Para tentar incentivar as pessoas ele ainda contou uma ou duas piadas, das quais ninguém riu, pois eram ofuscadas pelas buzinas da cidade.
        Ele terminou o seu discurso. O ônibus já estava na metade do caminho para casa. O moço de cara pintada arrastou seus sapatos grandes e vermelhos pelo ônibus até a cadeira vazia mais próxima. Logo em seguida se levantou, pois havia esquecido de recolher os cartões. Com dó comprei o menos brega e desejei-lhe boa sorte.
        O ônibus chegou no meu ponto, eu dei uma última olhada nele, o cansaço já o havia consumido e seus olhos estavam cerrados.
        Eu desci os dois degraus para a calçada, a porta se fechou e o ônibus partiu.

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